E vocês sabem que a Argentina está descendo a ladeira, né? O empobrecimento é evidente nas ruas, nas relações humanas, nas roupas que vestem, no comportamento.
O reflexo na moda é desastroso. A falta de grana e a carestia tá fazendo a mulherada rever valores e selecionar peças simples e práticas. Até demais! O que predomina nas ruas portenhas são jovens com micro shorts, micro blusas, mini vestidos e minissaias. As mais maduras pararam no tempo com roupas de décadas passadas, puídas, símbolos de uma sociedade em decadência.
Mesmo nas regiões nobres e de referência de estilo, os intempéries se fazem presente. Várias lojas do Palermo-Soho e Palermo-Hollywood abrem suas portas sem energia elétrica. Sim! O colapso no sistema elétrico argentino avança em várias camadas sociais e setores econômicos. Muitos prédios residenciais estão sem luz há mais de um mês e, consequentemente, sem água, pois a bomba d’água precisa de energia para funcionar.
Para as meninas-moças, a inspiração é a Violetta, símbolo maior da nação. Honestamente, detesto, mas me resigno com a paixão que minha filha, de 11 anos, tem pela personagem. Sabe as roupinhas que eu citei acima? Pois é, é assim mesmo que a personagem Violetta se veste. E tem tudo dela em todos os lugares. Ela é idolatrada! Reverenciada! Ah, os argentinos adoram criar ícones, seja na política, seja nas artes. É cultural.
E tudo em Buenos Aires tá muito caro, caríssimo. Água mineral você não compra por menos de 7 reais. Este valor é no Carrefour, imagine quanto paguei em restaurantes!!!! Uma xícara de café com leite grande varia de 10 a 15 reais. Surreal!!! Agradeci morar em São Paulo, no Brasil. Sério!
Já que vai gastar mesmo, sugiro passear e comer no Puerto Madeira. Além da vista linda, do “ar” romântico e do vento agradável, oferece bons restaurantes! Quer comer boa massa? É aqui mesmo. Se você quer uma mesa com vista para o rio, chegue cedo ou faça reserva.
A falta de grana faz rever também a forma de se deslocar de um lugar para o outro. As bicicletas e os patins ganharam as ruas. À noite, os patinadores dominam as ruas. Andam em grupo e se ajudam. Tem acidente? Tem sim. Presenciei uma moça atropelada, mas rapidamente socorrida pelos parceiros. A polícia olhava de longe e longe ficou.
Os carros servem de outdoor para a depressão econômica. Velhos ou amassados, mostram que trocar de carro ou ter um seguro virou artigo de luxo. O metrô agoniza com suas cadeiras com estofado de veludo manchado, evidenciando o distanciamento do estilo aristocrático. Além, é claro, do fedor insuportável e do calor indigno. As pessoas, apáticas, seguem suas viagens.
E quase na reta final da nossa viagem, o país praticamente quebra. Os pesos argentinos sofrem uma desvalorizam de 22% em um único dia e o dólar dá um tremendo salto. Passeatas (são diárias por diferentes motivos), ruas interditadas, exército na rua. A sensação de insegurança foi enorme. O aeroporto Ezeiza foi a nossa porta de saída com imenso alívio. Enquanto pagamos 230 pesos quando chegamos lá no dia 9 de janeiro, saímos pagando 270 pesos, 21 dias depois. A inflação não dá trégua.
Amei a cidade e lamentei seu destino. Desejo dias melhores aos argentinos, reclamões por natureza, mas com uma força enorme de luta e de justiça.